Hoje, milhares de mulheres são portadoras da endometriose, entretanto, o diagnóstico de tal doença nem sempre é fácil de ser obtido. Existem relatos de pacientes que levaram mais de oito anos para identificar a doença, uma vez que tal condição pode apresentar um espectro de sintomas variados, levando a um diagnóstico equivocado de uma série de outras patologias.
Outro fator que pode prejudicar o diagnóstico precoce da endometriose é a sua localização. Dependendo do local em que o tecido endometrial se implantou, o quadro clínico e exame físico da paciente podem ser inespecíficos e, por muitas vezes, os exames diagnósticos rotineiros, tais como o ultrassom transvaginal, não conseguem identificar a doença.
Por gerar uma série de dúvidas e muito mitos, os médicos ginecologistas da clínica BedMed listaram as sete dúvidas mais frequentes a respeito dessa doença que atinge, principalmente, as mulheres em idade reprodutiva. Confira:
Índice
1. O que é endometriose e como ela surge no organismo feminino?
A endometriose é uma doença ginecológica que acomete mulheres em idade fértil, ou seja, entre a menarca (primeira menstruação) até a menopausa (ultima menstruação). Ela consiste na implantação anômala do tecido endometrial (camada de revestimento interna do útero), promovendo focos de inflamação e aderências. Geralmente esses focos de endometriose atingem órgãos localizados na região pélvica, tais como bexiga ou alças intestinais, porém há relatos dessa doença em outros órgãos, como, por exemplo, fígado ou pulmões.
Essa alteração é a principal causadora de infertilidade feminina e dor pélvica crônica. Além disso, ela pode aumentar o risco de gestação ectópica ou abortamento.
Quando se fala das causas da doença, existem várias teorias que podem explicar essa doença, porém nenhuma delas foi considerada como causa exata. Uma das principais teorias é a menstruação retrógrada, na qual o fluxo menstrual contendo as células endometriais, ao invés de sair do útero pelo canal vaginal, segue em direção às trompas uterinas e cavidade pélvica, por um possível mecanismo de refluxo, espalhando-se por toda a cavidade. Essas células endometriais se implantam na cavidade e podem crescer (por estimulo hormonal), gerando focos de endometriose.
Entretanto, é plausível entender que quase todas as mulheres têm menstruação retrograda, porém nem todas são portadoras da doença. Por isso, é incorreto dizer que a teoria da menstruação retrógrada, por si só, consegue determinar a etiologia específica dessa doença.
Além disso, outra teoria existente é da alteração genética, que determina que mulheres que têm parentes de primeiro grau diagnosticadas com a doença são mais propensas ao desenvolvimento da mesma quando comparadas com mulheres sem histórico familiar.
Vale lembrar que existem diversos outros fatores de risco para o surgimento da doença, tais como: malformação uterina, fluxo menstrual aumentado, menarca precoce e menopausa tardia, tabagismo e gestação em uma idade mais avançada.
2. Quais são os principais sintomas da endometriose?
Os sintomas da endometriose podem ser semelhantes aos de outras doenças ginecológicas:
- Cólicas menstruais intensas;
- Dores durante ou após as relações sexuais;
- Dores abdominais durante ou fora do período menstrual;
- Sangramento menstrual intenso ou irregular;
- Sangramentos de escape;
- Dificuldades para engravidar – infertilidade.
Uma paciente portadora da doença não precisa apresentar todos os sintomas acima, pois, como já mencionado anteriormente, o espectro da doença e sua sintomatologia são muito variáveis.
3. A endometriose pode virar câncer?
Estudos indicam uma pequena correlação para o surgimento de câncer de ovário em mulheres que apresentam endometrioma (endometriose implantada no ovário). Entretanto, a incidência é mínima. Dessa forma, a doença não é considerada um fator de risco para o surgimento do câncer.
4. Toda mulher tem endometriose?
Estatísticas atuais indicam que cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva sofrem com a endometriose. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, no Brasil, aproximadamente 7 milhões de mulheres são portadoras de endometriose.
5. Qual é o melhor tratamento para endometriose?
O tratamento para endometriose deve ser feito de maneira individualizada, após o médico responsável avaliar o quadro clínico, o exame físico e os exames subsidiários da paciente. Por se tratar de uma doença com amplo espectro e graves consequências, com impacto direto na qualidade de vida, é fundamental que a paciente mantenha seguimento com um médico ginecologista especialista em endometriose.
Basicamente, o tratamento pode ser dividido de duas formas:
Clínico: É indicado em casos mais leves da doença, com a administração de medicamentos que inibem a ovulação ou promovem atrofia do endométrio ou reduzem a ação dos hormônios sobre os focos de endometriose. Os principais fármacos são: pílulas anticoncepcionais com progesterona, DIU hormonal, implante hormonal de progesterona, analgésicos, anti-inflamatório, dentre outros.
Cirúrgico: A cirurgia é indicada para casos mais graves da endometriose, pois é capaz de diminuir os focos de endometriose e retirar as aderências pélvicas, reduzindo o processo inflamatório crônico da cavidade abdominal e promovendo uma melhora na qualidade de vida da paciente. A principal via cirúrgica é a videolaparoscopia, pois permite a visualização mais ampla e precisa do útero e da cavidade abdominal, além de ter um período de recuperação mais curto.
6. A endometriose tem cura?
Infelizmente não, uma vez que é considerada uma doença crônica de etiologia indeterminada. Entretanto, com tratamentos efetivos, tanto cirúrgicos como medicamentosos, é possível melhorar a qualidade de vida da paciente, bem como reverter o quadro de infertilidade por meio das técnicas de reprodução assistida.
7. Qual é a relação da endometriose com a infertilidade?
A endometriose tem relação direta com a infertilidade feminina, pois provoca dificuldade para engravidar em aproximadamente 50% das pacientes portadoras da doença. Entretanto, nem todas as pacientes portadoras da doença serão inférteis. Sabe-se que, quanto mais grave for o grau de endometriose, maior é a probabilidade em apresentar dificuldades para engravidar.
A infertilidade é recorrente na endometriose devido à alteração anatômica e a dificuldade na mobilidade das tubas uterinas (as trompas “grudam” em outros órgãos e não conseguem se movimentar), prejudicando a liberação do óvulo pelos ovários em direção às trompas. Além disso, a endometriose promove uma redução na quantidade e na qualidade dos óvulos e dificulta a implantação do embrião no interior do útero, aumentando, inclusive, as chances de abortamento.
Fontes de referência:
Organização Mundial da Saúde (OMS);
Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE);
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Dr. Giuliano Bedoschi (CRM/SP 130571)
Dr. Bruno Bedoschi (CRM/SP 133748)