O ultrassom morfológico do segundo trimestre gestacional deve ser realizado entre 20 a 24 semanas de gestação. Todas as gestantes devem ser submetidas a esse exame como rotina pré-natal. Além de avaliar a morfologia fetal, esse exame também avalia o crescimento do feto, a quantidade de líquido amniótico e o grau de maturidade placentária.
A ultrassonografia morfológica é um exame detalhado que avalia o desenvolvimento do bebê. Existem muitos aspectos da gestação que podem ser identificados durante a realização desse exame, no intuito de assegurar o correto crescimento e desenvolvimento do feto.
Anatomia fetal: são avaliadas as seguintes estruturas fetais: crânio, cérebro, face (incluindo avaliação de perfil e dos lábios superiores – para descartar quadros de fenda palatina), coração, tórax (incluindo avaliação do diafragma), abdome (incluindo avaliação dos rins, bexiga e estômago), coluna vertebral, costelas, mãos e pés.
Para avaliar todas essas estruturas, o feto deve estar em um posicionamento adequado. É um exame difícil e depende da “colaboração” do bebê, pois caso ele esteja em um mau posicionamento ou tenha algum fator externo que prejudique como, por exemplo, obesidade materna, o exame será tecnicamente mais difícil.
Biometria fetal: as principais medidas da biometria fetal são: diâmetro biparietal, diâmetro occipto-frontal, circunferência abdominal, medida do fêmur, medida do úmero e distância biocular.
Cada medida apresenta uma variação considerada normal, dependendo da idade gestacional. Cada bebê tem suas próprias características como, por exemplo, alguns bebês apresentam uma circunferência craniana maior e um fêmur mais curto. Essas características geralmente são similares às dos pais.No entanto as medidas que se encontram fora dos padrões da normalidade nem sempre são significativas, especialmente se a diferença entre a medida realizada e a média para a idade gestacional for mínima. O feto deverá ser avaliado de forma cautelosa caso ocorra desvios significativos da variante da normalidade.
O foco principal da ultrassonografia morfológica não é o peso fetal estimado do feto. Essa avaliação tende a ser mais importante no final da gestação, ou caso exista algum risco de prematuridade envolvido. As medidas são avaliadas em conjunto e estipulam uma média da idade gestacional do feto. Vale lembrar que sempre existe uma variação de erro de cerca de até 10 dias entre a idade gestacional real do feto, o qual é baseado na data da última menstruação ou na idade gestacional estipulada pela ultrassonografia precoce e a idade gestacional estipulada pelo ultrassom morfológico do 2° trimestre. Por exemplo, caso o feto tenha uma idade gestacional estimada em 21 semanas, não é de se preocupar caso as medidas do ultrassom estimem 10 dias a mais ou 10 dias a menos dessa idade.
Batimento cardíaco fetal e ritmo: o batimento cardíaco fetal pode variar entre 120 a 160 batimentos por minuto. Seu ritmo deve ser avaliado de forma minuciosa.
Número de fetos: para as pacientes que não realizaram ultrassonografia precoce, essa pode ser a primeira oportunidade em diagnosticar gestações múltiplas.
Posição da placenta: a ultrassonografia deve avaliar a posição da placenta em relação ao orifício interno do colo uterino. Caso o segmento inferior da placenta esteja próximo ao colo do útero, ela é chamada de placenta de inserção baixa, existindo um risco de evoluir para placenta prévia conforme o decorrer da gestação.Cerca de 2-3% das gestações apresentam placenta de inserção baixa durante o 2° trimestre gestacional. Conforme ocorre o crescimento do útero com o decorrer da gestação, a placenta geralmente sobe e se distância do orifício interno do colo uterino. Isso significa que a maioria das placentas de inserção baixa tende a se resolver durante o 3° trimestre gestacional sem complicações ou intervenções necessárias.O médico deverá reavaliar o posicionamento da placenta no terceiro trimestre (entre 32-34 semanas) caso tenha alguma preocupação com a persistência da inserção placentária baixa.
A ultrassonografia transvaginal é geralmente utilizada para melhor avaliação da placenta, principalmente na suspeita de placenta de inserção baixa.
Índice de líquido amniótico: o volume do líquido amniótico durante o 2° trimestre gestacional é avaliado de forma subjetiva, ao contrário do 3° trimestre em que são medidos os maiores bolsões verticais de líquido amniótico nos quatro principais quadrantes do abdômen materno.
Medida do colo uterino: é extremamente importante caso a paciente tenha histórico de parto prematuro, sangramento vaginal ou cólica abdominal. A medida do colo uterino não é tão importante durante o período a termo da gestação.
Avaliação uterina: sempre deve ser avaliado à procura de miomas uterinos. Caso eles estejam presentes, devem ser avaliados com relação a sua localização e ao seu tamanho. A maioria dos miomas uterinos não causa alteração durante a gravidez.
Infelizmente, uma ultrassonografia morfológica normal não garante que o feto não irá apresentar alterações de desenvolvimento ou que a gestação irá evoluir de forma adequada. Alguns problemas, tais como paralisia cerebral, dificuldades no aprendizado ou autismo, não são detectados na ultrassonografia, tendo em vista que esses problemas não estão associados com alterações estruturais do feto.
A maioria das gestações (mais de 95%) irá apresentar ultrassonografia dentro dos limites da normalidade. Entretanto, algumas alterações poderão ser detectadas e deverão ser enquadradas em alguma categoria, conforme descrito abaixo:
Variação da normalidade: a anatomia fetal nem sempre é exatamente igual. A ultrassonografia pode evidenciar pequenas alterações que ocorrem em alguns, porém não em todos os fetos. Essas pequenas alterações são chamadas de variantes da normalidade.
A maioria das mulheres que apresentam marcadores menores detectados ao ultrassom não serão submetidas à amniocentese porque o risco para síndrome de Down permanecerá baixo. Essas variantes da normalidade são chamadas de marcadores menores, ou seja, geralmente ocorrem em bebês sem alterações cromossômicas, porém podem acontecer com maior frequência em bebês portadores de anormalidades cromossômicas, tais como a síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21).
Os marcadores menores para síndrome de Down incluem: foco ecogênico cardíaco, fêmur curto e pieloectasia (dilatação do sistema coletor dos rins). Caso seu médico acredite que a presença dos marcadores menores aumente o risco de alguma anormalidade cromossômica, testes mais invasivos (como por exemplo: amniocentese) podem ser realizados.
Caso essa seja a única alteração evidenciada em sua ultrassonografia, geralmente não é necessário realizar acompanhamento complementar. Algumas vezes outra ultrassonografia deva ser realizada de forma mais tardia, principalmente no caso de artéria umbilical única (pode estar associada com restrição de crescimento fetal).
Anormalidades menores: uma pequena porcentagem dos bebês apresentará anormalidades menos significativas. Essas anormalidades não são consideradas alterações com risco de óbito. Algumas dessas alterações deverão ser submetidas à correção cirúrgica após o nascimento, como, por exemplo, a fenda palatina e outras deverão ser avaliadas de forma mais minuciosa durante a realização do acompanhamento ultrassonográfico, um grande exemplo é a dilatação dos sistemas coletores renais, conhecida por pieloectasia renal, que pode indicar a presença de refluxo urinário.
Anormalidades maiores: uma pequena porcentagem dos bebês apresentará anormalidades mais significativas, tais como defeitos cardíacos ou espinha bífida. Esse grupo de alterações pode estar associado com abortamento, óbito neonatal ou alteração significativa do desenvolvimento. Algumas dessas alterações podem ser corrigidas de forma cirúrgica após o nascimento e apresentam altas taxas de sobrevida.