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Definição de ovários policísticos
A síndrome dos ovários micropolicísticos (SOMP) é uma alteração hormonal comum entre as mulheres na idade reprodutiva. O nome da síndrome surgiu devido às alterações dos ovários das pacientes com essa alteração (vale lembrar que nem todas as pacientes portadoras da síndrome apresentam alterações ultrassonográficas). Os ovários geralmente apresentam-se aumentados (volume acima de 10 cm³) e contendo diversos pequenos folículos (mais de doze) com diâmetros entre dois a nove milímetros dispersos pela periferia ovariana.
Intervalos longos entre os ciclos menstruais (acima de 35 dias), aumento da pilificação corpórea (índice de Ferriman > 8), acne e obesidade podem aparecer em mulheres com síndrome dos ovários micropolicísticos. Em adolescentes, a irregularidade menstrual ou até mesmo a ausência de menstruação podem indicar a presença da síndrome. Nas mulheres adultas, a dificuldade em engravidar ou o aumento do peso corpóreo de forma repentina podem ser os primeiros sinais dessa alteração.
A causa exata da síndrome dos ovários micropolicísticos permanece desconhecida. O diagnóstico precoce e o tratamento para ovários policísticos podem reduzir o risco das complicações crônicas dessa doença, tais como a diabetes mellitus tipo 2 ou alterações cardíacas.
Principais sintomas dos ovários policísticos
Os sinais e sintomas da síndrome dos ovários micropolicísticos iniciam-se logo após o início dos ciclos menstruais. Em alguns casos, a SOMP se desenvolve tardiamente.
Os sinais e sintomas variam entre as mulheres, tanto em severidade quanto na sua apresentação. Para ser diagnosticada com essa alteração você deve ter pelo menos dois dos seguintes sintomas:
- Irregularidade menstrual: essa é a característica mais comum. Exemplos de irregularidade menstrual incluem intervalos longos entre os ciclos menstruais (superior a 35 dias), menos de oito ciclos menstruais por ano, ausência de menstruação por um período superior a três meses seguidos (em pacientes que apresentavam ciclos regulares) ou ciclos menstruais com sangramento aumentado (em fluxo ou duração) após um longo período sem menstruar. Para averiguar essas condições deve-se ter passado um período de pelo menos dois anos desde o surgimento da primeira menstruação (menarca), pois durante esses dois primeiros anos é comum ocorrer irregularidade menstrual fisiológica (ciclos com intervalos longos), ou seja, que não está correlacionada com a SOMP.
- Hiperandrogenismo clínico ou laboratorial: a elevação dos hormônios masculinos (andrógenos) pode acarretar alterações no exame físico, tais como aumento excessivo de pelos faciais e corpóreos (hirsutismo), acne ou queda capilar do tipo masculina (alopecia androgênica). Entretanto, as alterações do exame físico variam de acordo com a etnicidade, portanto, dependo da sua descendência, os sinais podem ou não aparecer. Sempre é valido solicitar dosagens de hormônios androgênicos para averiguar seus níveis, pois existem pacientes com hiperandrogenismo laboratorial (aumento dos níveis dos hormônios masculinos) e que não apresentam alterações no exame físico.
- Alterações ultrassonográficas: ovários aumentados de volume contendo diversos pequenos cistos podem ser detectados ao ultrassom. Apesar do nome da síndrome, a presença apenas da alteração ultrassonográfica não configura a síndrome. Para confirmar o diagnóstico para ovários policísticos você também deve apresentar outros sinais: irregularidade menstrual ou hiperandrogenismo clínico ou laboratorial.
O mais importante é saber que a síndrome dos ovários micropolicísticos é uma doença de exclusão, ou seja, para firmar o seu diagnóstico deve-se descartar algumas outras doenças, tais como a hiperplasia adrenal e o tumor de supra-renal.
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Quando procurar um médico
Entre em contato com seu médico em casos de ciclos menstruais irregulares – ciclos prolongados ou períodos sem menstruar – especialmente se você apresenta excesso de pelos na face e no corpo ou acne.
O diagnóstico precoce e o tratamento imediato da síndrome dos ovários micropolicísticos podem reduzir o risco de complicações crônicas, tais como a diabetes mellitus tipo 2, aumento dos níveis pressóricos e problemas cardíacos.
Causas da síndrome do ovário policístico
Os médicos não conseguem definir a causa exata da SOMP, porém sabe-se que esses fatores descritos abaixo desempenham algum papel na etiologia da síndrome dos ovários micropolicísticos:
- Hiperinsulinemia: a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e permite que as células utilizem o açúcar sanguíneo (glicose) para realizar as atividades energéticas diárias. Caso você apresente uma resistência à insulina, a sua habilidade em utilizar a insulina fica danificada e consequentemente o seu pâncreas acaba produzindo mais insulina para fazer com que as células utilizem o açúcar sanguíneo. Esse aumento de insulina pode acarretar um aumento da produção de hormônios androgênicos (masculinos) pelos ovários.
- Hereditariedade: caso sua mãe ou irmã apresentem SOMP, você pode apresentar um risco maior de ter a síndrome. Pesquisadores estão analisando a possibilidade de haver mutações genéticas correlacionadas com a síndrome dos ovários micropolicísticos.
- Desenvolvimento fetal anormal: algumas pesquisas revelam que a exposição excessiva a hormônios masculinos (andrógenos) durante a vida fetal pode alterar o funcionamento dos genes normais – um processo denominado de alteração da expressão gênica. Isso pode gerar um aumento da resistência à insulina e uma diminuição dos processos inflamatórios.
Complicações do ovário policístico
A síndrome dos ovários micropolicísticos pode aumentar o risco de desenvolver algumas complicações, especialmente se você apresentar obesidade (IMC > 30):
- Diabetes mellitus tipo 2;
- Hipertensão arterial sistêmica;
- Dislipidemia e alteração dos níveis de triglicérides;
- Aumento dos níveis de proteína C (marcador de doenças cardíacas);
- Síndrome plurimetabólica;
- Esteatose hepática não alcoólica: uma inflamação severa do fígado causada pelo acúmulo de gordura no órgão;
- Apneia do sono;
- Sangramento uterino anormal;
- Câncer de endométrio: causado pela exposição contínua a níveis elevados de estrógeno;
- Diabetes gestacional ou doença hipertensiva específica da gestação.
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Diagnóstico da síndrome do ovário policístico
Não existe um teste específico para diagnosticar a síndrome dos ovários micropolicísticos. O diagnóstico é de exclusão, o que significa que seu médico deve considerar todos os seus sinais e sintomas e descartar todas as doenças que podem estar ocasionando suas alterações.
Durante esse processo, o seu médico deverá levar em consideração diversos fatores, tais como:
- Antecedentes pessoais: seu médico irá realizar questionamento a respeito dos seus ciclos menstruais, ganho de peso e diversos outros sintomas;
- Exame físico: durante a realização do exame físico, seu médico irá notar diversas alterações, incluindo o aumento da pilificação corpórea, aumento do IMC (avaliado por meio do peso corpóreo e da estatura), presença de manchas escurecidas conhecidas por acantose nigricans ou aumento dos níveis pressóricos;
- Exame pélvico ginecológico: avaliar a presença do aumento do volume ovariano;
- Exames laboratoriais: realizar a coleta de diversos exames sanguíneos para descartar outras doenças e avaliar os níveis hormonais (principalmente os hormônios androgênicos). Além disso, é válido solicitar a realização de teste de tolerância oral a glicose com 75 gramas de glicose anidra, para avaliar o possível grau de intolerância à glicose (pacientes com SOMP têm maior predisposição a evoluir com diabetes mellitus tipo 2);
- Ultrassonografia pélvica: pode avaliar o aspecto dos ovários (incluindo o volume ovariano e a presença de folículos ovarinos) e o comprimento do endométrio (revestimento da porção interna do útero).
Tratamento para ovários policísticos
O tratamento para ovários policísticos geralmente é focado na resolução do quadro clínico ocasionado pela síndrome, principalmente a infertilidade, o hirsutismo (aumento da pilificação corpórea), acne ou obesidade.
Seu médico poderá prescrever as seguintes medicações:
- Reguladores do ciclo menstrual: caso você não esteja tentando engravidar, seu médico deverá recomendar o uso de métodos anticoncepcionais combinados (estrógeno + progesterona) com baixa dosagem hormonal. Eles diminuem a produção de hormônios androgênicos e libertam o seu organismo dos efeitos contínuos ocasionados pelo estrógeno (a progesterona apresenta efeito protetor frente à ação do estrogênio), diminuindo o risco de câncer de endométrio e corrigindo as anormalidades menstruais.
- Uma alternativa é o uso de progesterona na segunda fase do ciclo menstrual, ou seja, durante 10 a 14 dias por mês. Isso regula o seu ciclo menstrual e oferece proteção frente à ação do estrogênio, porém não ajuda a controlar os níveis de hormônios androgênicos.
- Seu médico também poderá prescrever Metformina, que é um hipoglicemiante de uso oral, ou seja, auxilia a redução dos níveis de insulina. Essa medicação melhora a ovulação e geralmente regulariza os ciclos menstruais. Além disso, reduz a progressão para quadros de diabetes mellitus tipo 2 e auxilia na perda de peso.
- Auxilio na ovulação: caso você tenha desejo de engravidar, você poderá vir a utilizar alguma medicação que auxilie a ovulação. Citrato de clomifeno é uma medicação anti-estrogênica utilizada nos primeiros dias do período menstrual. Caso ele não faça efeito, seu médico poderá introduzir metformina para auxiliar na ovulação.
- Caso você não engravide com o uso de citrato de clomifeno, seu médico poderá indicar o uso de gonadotrofinas de uso injetável – hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH).
- Redução do crescimento exacerbado dos folículos pilosos: seu médico poderá prescrever pílulas anticoncepcionais para diminuir a produção de hormônios androgênicos ou até mesmo medicações que bloqueiam a conversão desse hormônio na pele (espironolactona). Como a espironolactona pode causar efeitos nocivos ao feto durante a gestação, o uso de métodos anticoncepcionais é mandatório nesses casos.
Outra opção de tratamento consiste na realização da videolaparoscopia cirúrgica. Durante esse procedimento, o “drilling ovariano” deverá ser realizado (por meio de pequenas incisões abdominais, o cirurgião consegue introduzir instrumentos cirúrgicos que emitem energia elétrica e realizam microcauterizações na superfície ovariana, levando a um melhor equilíbrio hormonal). O resultado é a maturação dos folículos e, consequentemente, a ovulação. Em poucos dias, após a indução laparoscópica, há uma normalização da função ovariana e melhora dos níveis de diversos hormônios.